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Encontro reúne mais de 80 mulheres kilombolas para discutir representação dentro e fora das comunidades tradicionais 24393p

Encontro reúne mais de 80 mulheres kilombolas para discutir representação dentro e fora das comunidades tradicionais
10 de junho de 2025 Comunicação FLD
POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA FLD 3n2w12

Nos dias 05 e 06 de junho, em Pelotas (RS), estiveram reunidas 82 mulheres kilombolas para o I encontro do projeto ‘Capacitação de mulheres quilombolas do bioma Pampa sobre o seu direito a ocupar espaços de participação e representação política’. Vindas de 25 comunidades localizadas em nove municípios do bioma Pampa, elas discutiram sobre protagonismo, superação do racismo e participação política na busca por direitos. 19i5r

O projeto é uma iniciativa da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), por meio do Programa de Educação Antirracista, em parceria com o Ministério das Mulheres do Governo Federal, e tem por objetivo principal proporcionar espaços de aprendizado e partilhas entre mulheres kilombolas do bioma Pampa sobre o seu direito a ocupar espaços de participação e representação política dentro e fora das comunidades.

“O encontro foi maravilhoso, a gente pôde se conectar com outras mulheres e ver que a realidade das mulheres são todas iguais. Em vários momentos a gente se emocionou, e a gente pôde ver o sofrimento, a gente pôde falar das nossas dores, que são quase todas iguais”, afirmou Tatiane Dias Schug, do Kilombo o do Lourenço, de Canguçu (RS). “Em vários momentos foi dito que a gente sempre tem que aceitar ser forte, mas a gente está cansada de ser forte”, complementou.

Gabriela Soares Munhós, do Kilombo Corredor dos Munhós, de Lavras do Sul (RS), destacou os saberes e ancestralidades partilhadas. “Eu fico feliz por saber que teve quem lutou e ainda tem quem lute, quem tem a força de levantar a mão e dizer que a gente tem que seguir em frente. Que, sim, a gente tem um lugar nesse Brasil, no nosso Pampa, na nossa fronteira. E que, sim, a nossa comunidade, que ela tem um lugar, que ela tem voz. Que tudo o que foi tirado, que tudo o que foi feito, o que achavam que estava dizimado, não está, está cada vez mais forte, com mulheres que pensam, que falam, que agem e que movimentam. Um encontro de saber, de trocas, de acolhimento”, disse.

Michele Barcelos Corrêa, assessora de projetos da FLD, também ressaltou a potência da atividade. “O encontro de mulheres kilombolas foi místico, um aquilombamento de saberes e afetos que permitiu a partilha, a troca e a aprendizagem a partir da vivência de mulheres potentes que são resistência em suas comunidades. Estar entre mulheres de várias idades, territórios e experiências é renovar-se, restaurar forças e celebrar a ancestralidade que nos trouxe até aqui, para seguirmos em frente, de forma coletiva e com compromisso social e político de enfrentamento às mais variadas violências, ao machismo e ao racismo”, afirmou.

As mulheres também participaram, na tarde do dia 05, da inauguração do espaço do Programa de Educação Antirracista da FLD, que contou com a presença de pessoas indígenas e representantes do poder público e entidades parceiras. O programa, criado recentemente dentro da instituição, tem por objetivo refletir sobre a equidade racial e promover avanços no enfrentamento ao racismo por meio de ações formativas de educação antirracista, buscando a valorização e o respeito aos grupos negros e indígenas, bem como seus saberes, conhecimentos e modos de vida.

Projeto ‘Capacitação de mulheres quilombolas do bioma Pampa sobre o seu direito a ocupar espaços de participação e representação política’

A necessidade do projeto surgiu em razão da carência de espaços seguros e contínuos de formação sociopolítica para as mulheres kilombolas do Pampa, especialmente em seus territórios, dificultando a sua participação política e defesa de direitos dentro e fora das comunidades. Por isso, a necessidade de discutir em conjunto questões como o racismo histórico e estrutural, associado à misoginia, que vem mantendo a invisibilidade das comunidades kilombolas do Pampa, em especial das mulheres.

Além disso, precárias condições de o e as grandes distâncias destas comunidades em relação às sedes urbanas e políticas dos municípios e do estado do RS dificultam ainda mais a participação das mulheres kilombolas em espaços contínuos de formação e articulação e de incidência política, onde poderiam apresentar e reivindicar suas pautas.

Diante da identificação deste problema, o projeto é uma oportunidade de realizar formação política junto com as mulheres kilombolas diretamente em suas comunidades e em encontros ampliados, para que tenham a oportunidade de participar, coletivamente e nos seus territórios, de um processo de formação sociopolítica direcionado às suas especificidades.

São acompanhadas no projeto as comunidades Cruz Alta e Rincão dos Negros, de Rio Pardo; Alto do Caixão, de Pelotas; Armada, Bisa Vicente, Cerro da Boneca, Cerro da Vigília, Estância da Figueira, Favila, Faxinal, Filhos dos Kilombos, Iguatemi, Manoel do Rego, o do Lourenço, Potreiro Grande e Santa Clara, do município de Canguçu; Tamanduá e Vila da Lata, de Aceguá; Comunidade Palmas, de Bagé; Corredor dos Munhós, de Lavras do Sul; Ibicuí da Armada, de Santana do Livramento; Vacaquá, Rincão dos Negros e Rincão da Chirca, de Rosário do Sul; e Comunidade Cerro do Ouro, do município de São Gabriel.

 

*Optamos por escrever kilombolas com “k” para dar protagonismo aos idiomas originários das palavras (povos africanos).

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